Biografia e introdução
Wallon viveu seus 83 anos em Paris
(1879-1962). Foi médico de batalhão durante a Primeira Guerra e trabalhou para
a Resistencia na Segunda. Filiou-se ao partido comunista semanas depois que os
nazistas fuzilaram Politzer. Presidiu a comissão que elaborou um projeto de
reforma de ensino para a França de teor tão avançado que permanece parcialmente
irrealizado. Wallon concebe o estudo como trabalho social mediato, e prevê para
os estudantes a partir do segundo grau um sistema de pré-salários e salários.
Sua formação, tendo a marca da filosofia e
da medicina, recebe frequentes inserções da psicologia na corrente do
pensamento ocidental até suas origens gregas, e a preocupação permanente com a
infraestrutura orgânica de todas as funções psíquicas que investiga.
A matéria-prima de seus estudos foram
observações de mais de duzentas crianças doentes, casos de retardo, epilepsia,
anomalias motoras em geral. Este material, colhido entre 1909 e 1912, só foi
apresentado como tese e publicado depois da guerra (1925), quando a experiência
clínica com adultos traumatizados renovou e aprofundou suas conclusões.
Resultou disso L’enfant Turbulent,
republicado na França em 1984, com prefácio de Tran-Thong, que insere suas
conclusões no cenário dos trabalhos neurológicos recentes.
Sua psicogenética tem como ponto de
partida o patológico. A utilização da doença como um elemento necessário à
compreensão da normalidade fica assentada desde o início. Ele não atua apenas
como medico preocupado que considera a doença uma experiência natural, a forma
de experimentação mais apropriada à psicologia. Em sua concepção metodológica,
à psicologia convém um tratamento histórico (genético), neurofuncional,
multidimensional, comparativo. As funções devem ser estudadas evolutiva e
involutivamente, partindo das suas bases neurológicas e comparando-as com suas
equivalentes em diferentes espécies humanas em diferentes momentos da história
humana individual e coletiva. É equívoco classificar de organicista sua
proposta, visto que genético abrange a dimensão da espécie e abre espaço para
incorporação dos resultados da “psicologia história”. E ainda para Wallon o ser
humano é organicamente social, isto é, sua estrutura orgânica supõe a intervenção
da cultura para se atualizar.
O método adequando para a psicologia é a
observação. Suas observações em L’enfant
Turbulent são constituídas essencialmente pelo relato da conduta da criança
em seu ambiente (no caso, o hospital), e alguns testes são utilizados,
parcimoniosamente, apenas como forma de completar as estruturas retiradas da
observação. Wallon concebe a psicologia como ciência qualitativa: não há
preocupação nenhuma com a quantificação dos resultados. Quanto à analise,
Wallon opta pela genética, única forma, a seu ver, de não deixar perder a
integridade do objeto.
L’enfante turbulent, obra germinal, contém
em embrião todos os grandes temas que serão retomados e aprofundados:
movimento, emoção, inteligência e personalidade. Falta apenas a perspectiva
pedagógica, que mais tarde virá a pesar muito.
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