A Dança na Índia Milenar
Sempre existiu, através do tempo e do espaço, conflitos que
se traduziam pela necessidade da disciplina pretendida pelo educador e a
liberdade reclamada pelo educando. Foram os filósofos que trouxeram ao campo da
pedagogia as influências do Hedonismo. Segundo Penna Marinho, esta visão
educacional nasceu após o Renascimento, quando “especialistas especularam sobre
os fundamentos da Educação e advogaram para as crianças mais liberdade, mais
alegria, mais felicidade, reagindo contra situações em que elas se encontravam
perenemente ameaçadas, amedrontadas e castigadas” (Penna Marinho, 1984:42).
Se estudarmos a vida de qualquer povo, das civilizações mais
primitivas até nossos dias, encontraremos sempre como expressão de uma cultura
e como educação das crianças aos jogos, os desportos e a dança.
As Danças, em todas as épocas da história e/ou espaço
geográfico, para todos os povos é representação de suas manifestações, de seus
“estados de espírito”, permeados de emoções, de expressão e comunicação do ser
e de suas características culturais. É ela que traduz por meio de gestos e
movimentos a mais íntima das emoções acompanhadas ou não de música e do canto
ou de ritmos peculiares.
Como toda atividade humana, a Dança sofreu o destino das
formas e das instituições sociais. Assim, estas perspectivas abrem uma relação
entre as peculiaridades, características e o caráter dos movimentos dançantes e
o desenvolvimento sociocultural dos povos em todos os tempos.
Desde tempos imemoráveis, a Dança como atividade humana é
forma de manifestação, a primeira, também como comunhão mística do homem com a
natureza e com os deuses. As expressões dinâmicas das emoções do homem
primitivo – dança-ritmo – procuravam estabelecer um encontro consigo, com os
outros e com as forças da natureza. Pressionada pelo ritmo natural, a dança na
vida do homem primitivo presidia a todos os acontecimentos – nascimento/morte;
guerra/paz; cerimônias religiosas e de iniciação; tinham emocionalmente um
caráter ritualístico. Esse sentido da dança-magia do homem primitivo, que
presidia a todos os acontecimentos de suas vidas visava sempre o mesmo fim: a
saúde, a vida, a fertilidade, o vigor físico e sexual marcado pelo caráter
religioso, terapêutico, estético e educativo.
Como educação das crianças entre povos primitivos ainda hoje
a Dança deve proporcionar situações que lhes possibilitem desenvolver
habilidades várias de possibilidades de movimento, exercer possibilidades de
autoconhecimento e ser agente efetivo da harmonia entre a razão e o coração.
A dança dos hindus, irmanada aos atributos de Shiva, que
juntamente com Brham e Vishnu foram a trindade básica do hinduísmo, é uma
concepção filosófica e religiosa. A dança de Shiva foi considerada por Rodin
como a mais elevada concepção do corpo em movimento onde quatro braços
simbolizam o poder: os dois da direita têm função criativa, estendem-se para
abraçar e tocar o “damar” – tambor para despertar a vida; os dois da esquerda
manifestam destruição, aponta o inimigo vencido e o outro exige o fogo
imolador.
Com o mesmo sentido de criação-destruição-recriação há
também a Dança de Krishna, outro deus hindu tido como a oitava encarnação de
Vishnu. O jovem Krishna aniquila com sua dança a serpente que envenenava a água
do rio.
Sempre inspirado na atividade divina, a Dança na Índia segue
os conceitos de energia, sabedoria e a arte brotam de uma mesma raiz divina que
produz e coordena a vida. Esses conceitos se relacionam dentro de um raciocínio
que nada tem a ver com a lógica ocidental. Expressam a integração de elementos
opostos – espírito e matéria – gerando o ritmo da natureza que tanto passa pela
contemplação mística quanto pela sensualidade; não separa o sagrado do profano.
Tem assim a dança do povo hindu um caráter de intervenção e volta-se sobre este
prisma para o caráter educacional.
Os pioneiros da dança moderna, como François Delsarte, Ruth
Saint-Denis e Ted Shaw, usaram-na para a educação corporal e espiritual.
Na Índia milenar, a Dança segue quatro estilos ou correntes
coreográficas com concepção de drama: “Bharat, Natyam, Kathakali, Manipuri e
Kathak”. No momento, cumpre esclarecer a última citada a contar “histórias
educativas” e mostra uma forte influência islâmica nos temas dançados. O
intérprete deve ser hábil em expressar a narrativa linear bem como todas as sensações
que a mesma desperta nos educandos.
Essas danças na Índia permanecem arraigadas à cultura hindu
graças à permanência de danças vinculadas às tradições milenares, resguardadas
em seus temas e as suas formas de execução.
Nenhum comentário:
Postar um comentário