Idade Moderna e Filosofia Moderna
Para começarmos
o estudo da filosofia na Idade Moderna, é necessário estabelecer algumas
características desse período e o que mudou com o fim da era medieval.
Começamos por dizer que tal período se estendeu de meados do séc. XV a fins do
séc. XVIII. Entre as suas principais marcas, citamos o movimento de reforma que
derrubou a unidade religiosa em torno da Igreja Católica e a mudança de
mentalidade do teocentrismo para o antropocentrismo, conforme proposto por Copérnico
e posteriormente Galileu. Apesar de certo, Galileu foi obrigado a renegar tudo
o que havia proposto, inclusive as teorias que explicavam a queda dos corpos e
as descobertas astronômicas, tudo por causa da perseguição da Igreja Católica.
Galileu, aliás,
foi um dos mais importantes cientistas desse período. Nascido em 1564, na
Itália, Galileu foi responsável por radicais mudanças no conhecimento até então
formado, realizando progressos nas áreas da óptica, hidrostática, estudo do
movimento, dinâmica, etc. seus procedimentos eram muito voltados para a
experimentação, mas não se utilizava somente disso para formular seus
postulados. Ele também se utilizava de seu raciocínio próprio e o submetia a
provas para verificar sua validade.
Na mudança da
era medieval para a Idade Moderna, Galileu foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento
da ciência, com valorização da experiência e da técnica. Outro acontecimento
relevante nesse período é o surgimento da imprensa.
O movimento do
Renascimento, que se inicia no século XV e se estende ao século XVI, marca o
início dos abalos ao dogmatismo da Igreja Católica. O homem nesse período
começa a desenvolver um saber crítico que questiona a autoridade do papa e o
saber aristotélico até então imposto. Tal saber pregava, por exemplo, o modelo
geocêntrico.
Surge assim
nesse período uma nova forma de saber, denominada saber ativo, que se
contrapõem ao saber contemplativo que caracteriza a Igreja Católica. A
realidade agora é observada e testada, submetida a experimentações para somente
assim se firmar algum tipo de verdade. Galileu, mesmo com equipamentos
rústicos, conseguiu fazer grandes avanços graças a esse saber ativo.
Tal período
permite grande desenvolvimento no campo das ciências diversas, com o surgimento
de importantes nomes, tais como Galileu na física e astronomia, Kepler, Newton,
Torriceli, Gilbert, etc. A anatomia revelou Vesálio, Servet, Harvey e Hooke,
que desvendou a estrutura celular. Já na matemática destacaram-se Fermat, Leibniz,
Pascal e Descartes. Este último foi muito importante na filosofia e será
estudado mais adiante.
A principal
ocorrência da Idade Moderna que favoreceu o pensar filosófico é o surgimento de
novas questões políticas, econômicas e cientificas. Tais questionamentos
levaram o homem a ter uma forma de saber diferente, sem influência da religião,
dessacralizando o cosmo. Até mesmo a moral e a política não estavam mais sob o
arbítrio canônico, o que contribuiu para o aparecimento e desenvolvimento dos
Estados nacionais.
Existem também
outros fatores que caracterizaram o período da Idade Moderna e contribuíram
para uma mudança no pensar filosófico, como a geometrização do espaço (que até
então considerava a Terra como o centro do universo), a separação entre fé e
razão, a passagem do feudalismo para o capitalismo e a centralização do poder
em uma monarquia absolutista.
Em termos
filosóficos, os maiores temas discutidos na Idade Moderna são o racionalismo e
a liberdade.
Um dos
principais filósofos desse período, René Descartes focou seu trabalho
justamente no racionalismo. Descartes nasceu na França em 1596 e faleceu em
1650. Pertencia a uma família burguesa muito próspera.
A partir de
1619, Descartes fez inúmeras viagens pelo continente europeu, estabelecendo
contato com diversos sábios e pensadores do período. Se tornou amigo de Blaise
Pascau (1623-1662).
O trabalho de
René Descartes era feito com muita cautela, pois seus ideais poderiam ser motivos
de perseguições religiosas. Descartes afirmava, por exemplo, que para se chegar
a um conhecimento verdadeiro era necessário colocar em dúvida tudo aquilo que
acreditamos a respeito do tema estudado. Somente assim havia abertura para
ampliar o conhecimento.
Descartes é o
autor da célebre frase cogito, ergo sum,
que significa “penso, logo existo”. Tal frase demonstra o princípio da
filosofia cartesiana, na qual tudo provem do raciocínio, do pensamento. O termo
pensamento para Descartes tem, porém, um sentido bastante amplo, abrangendo
tudo aquilo que é realizado no nosso intelecto: afirmar, negar, sentir, crer,
sonhar, imaginar, etc.
De tal maneira
era a filosofia de Descartes que podemos dizer que ela tinha uma tendência
idealista de valorizar o sujeito pensante.
Além de afirmar
que o conhecimento de algo só poderia ser alcançando com o questionamento de
tudo aquilo que se acredita anteriormente, Descartes também afirmava que o
conhecimento de algo externo existe a partir de um raciocínio lógico interno da
pessoa.
Outro aspecto
importante de Descartes a ser lembrado é a importância fundamental que ele dava
à matemática. Acreditava que a matemática é um instrumento para a compreensão
da realidade e o plano cartesiano é derivado de seus trabalhos no campo dos
números.
Na sua eminente
obra O Discurso do Método, Descartes apresenta 4 regras que norteiam sua teoria
de como o alcança o conhecimento verdadeiro: da evidencia, da análise, da
síntese e da enumeração.
Na regra da evidência, Descartes afirmava a importância
da clareza e distancia de um postulado para admissão de sua veracidade. Já na
regra da análise, ele dizia que a
matéria a ser analisada necessitava ser dividida em tantas partes quantas forem
necessárias para que possamos alcançar a clareza necessária.
A regra da síntese determinava a ordenação dos
problemas de uma matéria mais simples para a mais complexa, ditando a sua
sequência de resolução. A última parte é da regra da enumeração, que determinava a finalização de um problema. Nessa
finalização, o pesquisador deveria fazer verificações completas e garantir com
certeza que nenhum dado a ser analisado foi omitido.
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