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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A dança e os parâmetros da estruturação das dimensões corporais e suas relações afetivas

Uma proposta para a Corporeidade Aplicada à Dança/Educação

Introdução

A perspectiva do trabalho é tentar viabilizar o caminho de uma nova compreensão do SER enquanto homem; romper com o tratamento do sujeito ou objeto enquanto só ciência experimental ao pretender evitar a dicotomitização de fatos psíquicos internos de um lado e as realidades físicas do outro, num corpo só visto sobre a ótica unilateral de uma ciência mecanicista.

O ser em “ser uma consciência” e antes “ser uma experiência”, é comunicar-se e estabelecer relação com o mundo, com os outros; é estar com eles em vez de estar ao lado deles (Merlealy-Ponty, 19...: 108). Olhar o ser humano por um só prisma é restringir a sua essência e sua posição ante a uma perspectiva do seu “mundo de vida”. As ciências devem retomar a busca e a apreensão do pleno significado do homem enquanto ser total refletindo e atuando no e com o seu contexto. O homem, enquanto fenômeno em sua abrangência é fonte, motivo e fim de toda a experiência, sentido e significado do Ser, de ser-homem; deve buscar de forma dinâmica, constante e incessante, a relação do sujeito frente ao mundo que possibilitará ao mesmo ser – no mundo – com o outro. É nessa relação constante, de sujeito e mundo que a essência se desprende a partir da existência.

O homem é um ser limitado pelo seu espaço corporal que o encerra em si mesmo, sua finitude essencial; entretanto é esse mesmo espaço que dá sentido e transcende para além dos limites de seu tempo ao “SER” um corpo com perspectivas e pontos de vista sobre o mundo e no mundo.

Pontos de vista diferentes oferecem:
Perspectivas diferentes, proporcionando nível de aspirações vastas;
Objetivos diferentes, visam fins amplos e abrangentes;
Níveis de intervenção diferentes oferecem resultados efetivos.

Na perspectiva desta abrangência é que tentamos caminhos, meios, através de pontos de vista e visão de mundo no decorrer da evolução de nosso trabalho. Quer nos parecer que cada enfoque é complementar aos outros em sucessivas e contínuas etapas.

A Dança, ao tentar a possibilidade de estabelecer os parâmetros das dimensões corporais e suas relações afetivas poderá viabilizar uma proposta de trabalho a nível educacional, com vistas voltadas para a perspectiva acima enfocada: “...meu corpo, um ser-no-mundo, é a fonte inesgotável da minha possibilidade de relação significativa com o mundo”.

O Jogo Simbólico

Segundo vários autores e pesquisas no campo da psicomotricidade, o conhecimento (consciente) do nosso corpo é filtrado pela percepção do inconsciente – intuição (Young), fonte imaginária da imagem corporal, com o corpo imaginário é que podemos simbolizar; ao simbolizar o homem recria o espaço mental e torna-o objeto consciente através do “jogo simbólico”. Portanto, é através do jogo que cada um revive a sua história – descodifica a mensagem que quer transmitir no diálogo corporal permeado pelo simbolismo do jogo.

O jogo é pois a manifestação da expressão simbólica no qual o homem se expressa, se realiza, estabelecendo seus limites através da pele. A pele é a membrana limítrofe, o espaço que estabelece relação entre o interior do “eu” e o exterior, espaço do objeto. Os limites permitem estabelecer o espaço interior do “eu” e o evento exterior dos objetos. (M. Klein). O trabalho de sensibilização através de atividades que estimulam o tato, as percepções kinestésicas, kinesféricas, a propriocepção, exterocepção são muito importantes pois a “pele” é a membrana limítrofe entre o interior e o exterior com a implicação interna de estabelecimento dos limites. Estes limites permitem estabelecer o espaço interior do “eu” e espaço exterior dos objetos.

O espaço é lugar de muita importância, pois é lugar para os acontecimentos concretos e as fantasias; entre meu espaço e outro se constrói a fantasia. A maior importância e dimensão do espaço é que ele uma vez estabelecido, permite articular as relações do tempo. O tempo, portanto, está contido nos limites do espaço.

A dança possibilita o estabelecimento dos limites usando a sensibilização do “toque de pele”. O estabelecimento dos limites permitirá viabilizar a possibilidade da estruturação da personalidade e da socialização, pois leva ao indivíduo saber o que ele é, sua relação com o objeto a nível social e pessoal. É através dos limites - canais de expressão das necessidades do corpo -, que se torna possível o trabalho a nível emocional. É este nível emocional que possibilita ao ser reviver sua história, estabelecer as diferenças e contrastes, as semelhanças e ambivalências e ir ao encontro de sua identidade.

Na perspectiva simbólica há uma interação do sujeito com consigo mesmo, com os outros, com os objetos e com o mundo canalizado, através da perspectiva física do corpo real veiculado pelas sensações. O jogo permite, a partir do real, ir até o imaginário e fecha o círculo com a volta ao real. A dimensão psicológica se cruza, portanto, com a dimensão física; cria a capacidade adaptativa e neste cruzamento se faz a transformação do que era ID em EGO; é onde o “Eu” se encontra com o “Tu”, pelo conhecimento do mundo interior e exterior através das relações estabelecidas pelo jogo simbólico. O jogo simbólico através do objeto transicional permite, portanto, desenvolver a relação e comunicação com o outro, consigo, com o ambiente, com o contexto geral ao atender às exigências adaptadas desta relação e ao estabelecer respostas funcionais positivas ou negativas.

Estas respostas, se negativas, poderão convergir em distúrbios funcionais, físicos ou ambos; se positivas, poderão facultar ao ser de organizar dentro do seu mundo simbólico estruturado e estabelecer contatos prazerosos consigo e com os outros de forma gratificante, alegre, feliz – é o ser no mundo o ser com os outros. É o jogo, ainda revelador do aspecto emocional, afetivo do ser através da comunicação não verbal permeando sua iniciativa, sua segurança, suas dificuldades e necessidades.

Enfim, é o jogo simbólico revelador do significado da vivência corporal, pois ela filtra e não castra, deixando o ser agir mais com a emoção do que com a razão (o que não é corticalizado é mais espontâneo) o que permite permear um conteúdo enriquecido pela essência do movimento do homem em sua existência. É o jogo, meio de expressão da linguagem corporal que permite ao inconsciente se expressar sem freios toda a dimensão histórica da subjetividade. É nesta perspectiva que a Dança/Educação poderá atuar como aporte efetivo.

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