A epistemologia tem como primeira preocupação garantir um conhecimento objetivo e seguro do corpo humano divorciado dos conceitos metafísicos e baseados em situações concretas dos corpos através de uma observação direta. A corporeidade, dentro desta filosofia é tomada como algo concreto, pois se baseia na espacialidade e temporalidade do corpo enquanto organismo vivo. A reflexão filosófica se respalda então a partir das descobertas das ciências experimentais com recursos necessários para explicar o fenômeno de corporeidade como fenômeno vivo.
Este tipo de reflexão filosófica, portanto, se obriga a partir de descobertas através das ciências experimentais. Entretanto, esta não tem recursos para explicar o fenômeno da corporeidade como um fenômeno vivo, tarefas assumidas pela biologia, anatomia, fisiologia e genética, o que traz como consequência o questionar das consequências que estas implicações cientificas acarretam para a compreensão da existência humana.
Para reiterar o exposto acima, cientistas, fisiologistas e filósofos vitalícios como Muller, Jacob, Monod, Kuhn Eizen citados por Santin (1989) defendem a ideia da evolução contínua dos seres vivos e o homem se incluem nesta evolução.
Resumindo, Satin comenta: ... “a partir dos filósofos vitalícios, podemos concluir que a corporeidade não é uma realidade dada, mas um processo franco e contínuo do processo de reorganização seguindo os passos das mutações e das transformações da dinâmica evolucionista”.
A tentativa de fazer o educando vivenciar o corpo em todas as suas dimensões, em outros níveis de forma total e profunda; em outros planos, no real ao corpo vivido na realidade, do corpo simbólico, vivido da fantasia, com toda carga efetiva, emocional, sensório-perceptivo e todos os aspectos do corpo que são ignorados e recusados pela educação que se diz normal, levou-nos a buscar uma nova maneira de trabalhar e mudar completamente o modo de veicular a Dança na Educação.
A abrangência e profundidade do trabalho corporal com todo o seu contingente afetivo na relação com seu próprio corpo, com o outro, com os objetos, com o mundo, levou-nos a fazer uma divisão utópica das dimensões corporais.
Na filosofia fenomenológica de Ponty o corpo seria um organismo em construção, pois, “seu corpo é como um sujeito natural, como um esboço provisório do meu ser total”.
Este aspecto filosófico nos permitiu fazer o viés de nosso trabalho: A DANÇA e a ESTRUTURAÇÃO das Dimensões Corporais e suas relações afetivas – uma proposta para a DANÇA/EDUCAÇÃO.
Neste enfoque colocamos a corporeidade como algo não definido, não pronto, mas sempre um esboço provisório de ser total; é um processo de construção que acontece ao longo de existência.
As construções elaboradas partem do enfoque psicológico da estruturação que flui do interior do corpo ao estabelecer suas dimensões corporais biomecânicas para depois partir para uma existência corpórea contextualizada, isto é, situado no tempo e espaço exterior. A estruturação das dimensões corporais parte do interior para o exterior, portanto, a essência do corpo se despende da existência ao longo da sua construção.
A experiência em Dança através deste tipo de Educação Psicomotora tem mostrado que as estruturas biofísicas, se espontâneas, em gestos e atitudes corporais vem explicitar o que se está passando com o educando através de mudança de posição do corpo mostrado pela contração e expansão do mesmo o que determina uma:
• Função do contexto-adaptação;
• Função de circunstância-defesa;
• Função de inter-relação-expressão.
A função de defesa leva-nos a ver que frequentemente as racionalizações conscientes do discurso corporal tolhem a sua significação. Pela análise do discurso corporal, o educador pode analisar o “eu” corporal – local simbólico de elaboração, pois o sujeito se permite elaborar quando ele está se exprimindo através da linguagem corporal, projeções não ditas de sua vivência, a nível de comunicação. Nesta comunicação, ele se exaure através do corpo real e do corpo imaginário a alguém em trocas simultâneas no tempo e espaço através da expressão de emoção (sintomas externos) e da emoção externada (sintomas internos). O diálogo corporal, portanto, é atitude de projeção sustentada desde o olhar sutil ao gesto, às atitudes no espaço projetando o que tem de si, consciente ou inconsciente através do corpo. Uma postura corporal já é respaldo à globalização contida no contexto; é, portanto, a comunicação, ato de relação, de reviver.
A adaptação seria a assimilação e a acomodação das experiências que o educando captou de experiências vividas, a partir da ação do indivíduo sobre o meio e vice-versa. É a relação sujeito-ambiente modificando suas reações mediante as limitações que este exerce sobre o mesmo, ou seja, modificando suas atitudes de acordo com os limites que o meio impõe.
Neste trabalho focalizaremos especificamente a maneira de integrar um trabalho psicomotor e pedagogia da Dança/Educação tentando levar à criança a descobertas, vivências e oportunidades mais espontâneas e criativas.
Portanto, as várias dimensões e estruturas corporais serviram de aporte ao trabalho com o corpo a partir do potencial do educando para atingir o PRA-SER – essência antológica, arquétipo (eu busco e reencontro a minha essência, minha realidade).
Sob o enfoque ontológico a corporeidade vista por este prisma busca como objetivo específico defini-la em essência de um ser corpóreo que em similaridade possa espelhar todos os corpos particulares. A natureza e essência dos corpos significa exatamente aquilo que o corpo se constitui como tal. A ideia abstrata do corpo nos permite atribuir significado ontológico da corporeidade. É sob este enfoque que se pode estabelecer uma ponte ao estudo metafísico da corporeidade (a antologia, parte da metafísica) se aplica ao estudo do ser enquanto “ente” independentemente de suas determinações particulares.
A base deste trabalho em Dança busca através das estruturas físicas, psíquicas, biológicas do corpo a nível organizacional do espaço-temporal, objetivar sua evolução organizacional, funcional, comportamental e relacional do SER, pelo PRA-SER para ser mais realizado e feliz.
A perspectiva do trabalho é tentar polarizar as abordagens teórico-práticas em Dança/Educação desvinculadas do seu enfoque unilateral e permeando as possibilidades de atuação em um corpo trabalhado de forma total, integral em relação a reação direta do ser inserido no contexto sociocultural: uma relação recíproca recebendo e exercendo influências diretas uma vez que estas são formas de ação, reação, expressão e comunicação comportamentais específicas de cada cultura.
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