Discussão
Linguagem e emoção, re-unidade da distância dos corpos. Ela possibilita a fusão a nível corporal através do corpo. O espaço fusional é emocional e profundo através da globalidade psicossomática, possibilita a re-unidade do ser, pois a emoção é uma reação indissociável desta globalidade a nível pessoal, quebrando o corpo dualista: espírito racional e corpo afetivo. A separação entre o espírito racionalista e objetivo e o corpo afetivo, subjetivo seria uma fuga à afetividade, à emoção e à funcionalidade da comunicação corporal com tendência a despojar a linguagem de qualquer conteúdo subjetivo e emocional tornando uma linguagem fria; esta veicularia informações e abstrações, destituídas de emoção.Uma linguagem corporificada afetivamente é uma linguagem de “toca”, que serve de mediador e unificador dos seres; romperia a barreira da solidão, pois permite através da fusão a abertura de todas as direções do espaço físico e temporal, da vivência profunda, vivência esta que leva o mesmo em direção ao infinito (projeção simbólica) – o espaço de fusão entre o homem e o universo, desejo inerente do homem de integrar seu corpo nas estruturas espaciais. É um ideal fusional de caráter místico, tão bem caracterizado por exemplo, pelas danças rituais.
A linguagem corporal através da dança registra o real, o simbólico, o imaginário, interligando os objetivos que articulam o corpo simbólico ao corpo imaginário permeado pelo corpo real.
A linguagem corporal, como toda forma de expressão, é a força dirigida para fora. A Dança, seria a metáfora corporal, ou seja, presença de movimento que é a linguagem corpórea de cada pessoa vazada através da janela da unidade do ser no plano físico, mental, emocional. Assim, o corpo fala de forma explícita – quando se mostra claro, objetivo, direto, através das representações históricas do corpo histórico e do “aqui e agora” do corpo presente em interação com as perspectivas físicas no espaço mental.
O plano das sensações veiculadas pelo estímulo sensorial permite através da articulação do corpo simbólico ao corpo físico elaborar e externar a expressão concreta do conteúdo vivido pelo “ser” e manifestado pelo corpo instrumental através das sensações e sentimentos que são reflexos do mundo em movimento registrados por ele ao vive-lo. A comunicação através da linguagem corporal é o ato de relação, é ato de viver.
Visão psico-pedagógica da linguagem corporal
A visão psicológica tenta penetrar na dinâmica gestual do educando, repleta de respostas qualitativas em seu conteúdo emocional, importantes para o educador como referencial; saber-se que o educando estará mais disponível as atividades intelectuais quando tiver resolvido seus problemas afetivos.A visão pedagógica utiliza situações e atividades espontâneas através de atividades motoras criativas externadas em ações sobre o meio, objetos, pelas noções estruturais de afastamento, aproximação, espaço, direção, intensidade com proposições não premeditadas, viabilizadas pelo processo criativo.
Este tipo de trabalho em Dança, através de uma pedagogia aberta, permitirá ao educando viver seu próprio corpo no plano pulsional, afetivo e fantasmático de forma espontânea e natural sem a angústia das castrações de atividades só direcionadas para o corpo instrumental. Neste plano, o educador introduz, na escola, o corpo tônico como também o corpo imaginário ao permitir ao educando exprimir uma atividade subjetiva e emocional em seu desejo fusional de complementariedade narcisista, que sob este enfoque dá um sentido, uma significação, uma finalidade para o mesmo.
A evolução deste tipo de atividade em dança, possibilitará uma melhor conscientização do educando e a busca, portanto de melhores condições de vida. É evidente que este tipo de educação gera diferentes tipos de indivíduos e sociedade. Portanto, na prática, a educação através da dança é um meio e um apelo a uma educação mais efetiva e com uma qualidade de relação mais substancial, pois em suas reações tônicas existe fortes conotações emocionais e afetivas, capazes de possibilitar seres mais afetivos e ser-no-mundo – com-os-outros.
A estruturação Corporal – Aporte da Linguagem Corporal
Segundo Le Boulch (1983) e Vayer (1986) o corpo é referencial permanente, o eixo da percepção existencial do ser humano no mundo. Prescinde, entretanto, à sua volta do domínio corporal como elemento fundamental para o domínio do comportamento.O corpo estrutura suas linhas gerais ao longo da infância e projeta-se numa evolução dialética, inacabada durante toda existência do ser humano.
Três etapas de estruturação corporal são fundamentais para a adaptação da criança ao mundo em seu espaço e tempo com uma dose de harmonia e equilíbrio emocional. São elas: elaboração, evolução e socialização.
O Período de Elaboração se desenvolve através do jogo simbólico quando a criança representa uma imagem mental usando a função de interiorização para idealizar ou introjetar de forma global seu “corpo vivido”.
O Período de Evolução é a etapa na qual a criança estabelece o primeiro esboço da imagem corporal, criando impressões, introjetando a imagem de outra pessoa às vivencias já integrado pelo corpo vivido. Isto permite um retorno da criança a si mesmo e esta toma consciência e sente o seu corpo; evolui em seguida para perceber o ambiente e as pessoas. Tudo isso constitui passos e etapas para a estruturação de sua personalidade. É a vez dela perceber que ela não é outro mais diferente do outro; tende não mais assimilar os sentimentos e atitudes do outro, mas afirmar sua própria personalidade.
O Período de Socialização, é resultante de várias sensações provindas dos sentimentos externos como estímulos sinestésicos que lhe permitem ter noção global do esquema corporal, da integração dos vários segmentos e das percepções favoráveis à sua orientação e situação no espaço.
Todos estes aspectos de experiências vividas à criança distinguem seu corpo do mundo dos objetos; parte então para relacionar-se com os outros e com os objetos – se socializa.
Schilder (1934) apud Costa (1981) legitima que o esquema corporal é a imagem do próprio corpo que se projeta no espírito de cada pessoa, ou seja, o modo o corpo se apresenta a cada um de nós. Schilder (1934) apud Rhoden (1984) analisa o pensamento de concepção freudiana de que a imagem do corpo corresponde a uma instrução progressiva que se constrói em torno das zonas erógenas pela associação com a estrutura libidinal.
Segundo Le Boulch (1983) Demeur e Staes (1984) apud Rhoden (1989) as etapas de estruturação do esquema corporal podem ser assim concebidas e discriminadas da seguinte forma:
• Estrutura do esquema corporal em conexão direta com o “comportamento motor global” cuja etapa é a do corpo vivido até três anos.
• Estruturação do esquema corporal pela discriminação perspectiva das partes do corpo cuja etapa do conhecimento corporal se estende pelo período de aproximadamente de três aos sete anos quando a criança centraliza a atenção sobre o próprio corpo, o que lhe viabiliza a conscientização das características corporais com atenção especial sobre as etapas do corpo como também sua interiorização.
• A estruturação do esquema corporal nesta última fase se caracteriza pela “orientação do corpo no espaço e no tempo”, portanto em relação com o objeto, com o outro e consigo mesmo, etapa esta que ocorre pelo período dos sete aos quatorze anos.
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