Descoberto o Brasil, os personagens vieram para explorar a
terra descoberta. Como consequência implantaram seus modelos culturais. Assim a
transculturação e a aculturação, através dos tempos, foram um processo
evolutivo lento, de aquisição ora espontânea, ora imposta pela cultura
dominante.
O fato de ser difícil nas primeiras décadas o contato entre
o índio e o europeu, forçou Portugal a lançar mão do comércio de escravos a fim
de suprir as dificuldades de mão de obra para a lavoura e a mineração. Com
isto, tanto o africano quanto o europeu marcaram profundamente o folclore
brasileiro.
A Dança Folclórica no Brasil sofreu, pois, a influência
étnica dos índios que aqui viviam, de “descobridor europeu” – senhor dominante
das terras, do primitivo africano escravizado, para o labor no Novo Mundo.
Desde o início dos tempos a dança para os indígenas era
totalmente ritualística; ao fazer parte dos seus rituais era primordialmente
funcional. Por isso, nos primeiros duzentos anos de colonização, os únicos
tipos de música ouvida no Brasil eram os cantos das danças rituais dos
indígenas acompanhadas pelos instrumentos de sopro – flautas de várias espécies,
trombetas, apitos, maracás e pelo bater-dos-pés para a marcação do ritmo. Eram
as manifestações dos aborígenes cujas danças giravam em torno de suas danças
rituais (nascimento, mortes, guerra e paz, semeadura e colheita) e de certo
ritos de passagem (virilidade, casamento, etc.).
Através dos tempos, com as mudanças culturais sofridas quer
espontaneamente pela aquisição sofridas pelas comunidades, em seu processo
evolutivo de adaptação ou pela desvinculação das raízes do homem ao processo de
aceitação e permutação de novos padrões na vida social e cultural tanto na
parte indígena quanto da parte do negro, verificou-se a perda contínua e
irreversível dos valores originais.
A dança, com as mudanças culturais sofridas pelas
comunidades, vai também acompanhando o processo evolutivo, adaptando-se às
vezes, espontaneamente como uma aquisição do próprio homem, outras vezes quase
importas por culturas dominantes. Assim, as nossas danças folclóricas se
modificaram tornando-se muitas vezes algo totalmente importado, desvinculada
das raízes do homem que a está praticando. Mutação e transculturação das danças
originais são influenciadas diretamente pelo oficial e pelo erudito.
Não existe essência pura nos casos do homem na sociedade e
da cultura. Todas as relações entre eles estão sempre articulando cultura
popular e erudita. A cultura erudita produz ideias, crenças, conhecimentos,
tecnologia, artefatos que ao passarem para o domínio popular se folclorizam.
Isto é devido ao "empréstimo” entre os elementos se mantém íntegros
surgiam dos apêndices nas estruturas dos fatos. Há, entretanto, determinados
aspectos como adaptação à realidade de traços culturais antigos e atuais com
alternância de forma e função (Almeida, 1974) que se constituíam na
reinterpretação destes fatos culturais.
O estudo das danças folclóricas nacionais, hoje se faz
necessário na medida que são reveladoras da cultura, de diferentes situações,
uma vez que algum dia compuseram rituais de instituições religiosas oficiais,
de situações políticas instaladas, de academias literárias eruditas distante,
portanto, do controle popular. Hoje se faz necessárias entendê-las do ponto de
vista de seu movimento, de sua dinâmica vertical quanto aos elementos que
tirados do povo, levados a burguesia por empréstimo que ao ser reinterpretado é
devolvido ao povo já modificado.
É o caso das Danças Camponesas que viajam para a cidade,
passam de popular aos salões, tendo antes geralmente surgido dos fatos
litúrgicos. Estes, ao aproximar-se a infundir-se com elas por regiões de
conflitos entre os agentes oficiais e populações passa à vida dos segundos e se
torna suas danças populares. Assim, as relações popular-clero-erudito deixam
marcas uns aos outros, principalmente a classe dominante, o poder, por empenho
ou dominação que influencia a vida das pessoas ou do grupo.
Por isso, a inclusão dos elementos da cultura regional ou
local exclui a permissão da cultura dominante na medida que esta já interfere
na inclusão das marcas e dos padrões sociais enquanto permite participação ativa
na percepção e descobertas das possibilidades do corpo social e cultural pela
implementação das características individuais e da coletividade e que permite o
engajamento e comprometimento social.
Sendo a Dança a marca cultural de um grupo, o povo que não
cultiva suas raízes, perde parte de sua identidade.
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